terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Eu Recomendo: "Preciosa - Uma História de Esperança"

"Meu nome é Claireece Precious Jones, eu quero sair na capa de uma revista, quero ter um namorado branco com um cabelo legal. Mas primeiro, quero ser a estrela de um videoclipe."
E quem é a sonhadora Precious? Uma garota de 16 anos, negra, obesa, pobre, analfabeta e mãe (!!!). Você que está lendo, ainda acha sua vida injusta? Se sim, tem mais então: Precious é violentada sexualmente pelo pai e abusada física e psicologicamente pela mãe. Que tal correr pro cinema mais perto e assistir "Preciosa - Uma História de Esperança".


Garanto que em menos de 10 minutos você vai entender que os seus problemas não são nada perto do que realmente sofrem algumas pessoas mundo afora. Foi assim que me senti!
Com 6 indicações ao Oscar (filme, direção, atriz, atriz coadjuvante, roteiro adpatado e edição), "Preciosa" vai além da violência familiar. Seu ingrediente principal é a esperança. Quando a diretora do colégio de Precious descobre que ela está grávida pela 2ª vez (novamente do pai), faz com que a garota seja transferida para uma escola alternativa, de jovens adultos problemáticos. Lá, uma nova história a aguarda, graças ao estímulo da professora Blue Rain. Ainda aparece pelo caminho a assistente social Weiss, interpretada por Mariah Carey.
"Preciosa" é a adaptação de "Push", relato ficcionalizado das experiências da poetisa Sapphire, que trabalhou como assistente social e educadora nos bairros pobres de Nova York. Oprah aparece em "Preciosa" como produtora executiva e, no roteiro, como uma referência de erudição. O poder da apresentadora na TV ajudou a atrair atenção para o filme, que é uma produção independente. Oprah, por mais que hoje seja a mulher mais poderosa no mundo, sofreu muito na vida. Sei disso porque já assisti ao seu programa diversas vezes, e ela sempre fala abertamente sobre seu passado, de forma a tentar ajudar os outros a não passarem pelas mesmas coisas que ela. Nasceu pobre e foi molestada quando criança pelo tio ou padrinho, não me recordo com exatidão. Então ela sabe muito bem como uma criança se comporta ao ser violentada, seus sentimentos, principalmente de vergonha, sua impotência de contar para algum adulto. E é o que vemos na Precious, os abusos a levaram a ser uma pessoa fechada, sem auto-estima, que se esconde do mundo, encobrindo inclusive o fato de não saber ler e escrever.
O diretor Lee Daniels, 2º negro a ser indicado ao Oscar de diretor, fez um excelente trabalho, conseguindo transferir com fidelidade a história para as telas. E a escolha do elenco foi determinante para esse sucesso. Exceto pela rápida participação especial do Lenny Kravitz, as mulheres que fazem esse longa brilhar:

Gabourey Sidibe



1º filme na vida, e de cara recebe sua 1ª indicação ao Oscar. Interpreta Precious com uma entrega impressionante. Não exagera na tristeza e nem em seus devaneios. Pulando de série em série sem nem saber ler e escrever, Precious senta no fundo da sala de aula completamente calada. Aproveita o tempo para viajar por um mundo em que é branca, magra, loira de cabelos lisos. Quando não é isso, imagina ser uma estrela passeando por festas e eventos badalados com o namorado de pele clara. Esse refúgio é o lugar para onde ela vai quando é hostilizada pelos colegas ou ao ser vítima dos abusos da mãe.

Mo'Nique



Estrela de seu próprio talk-show no canal americano BET (Black Entertainment Television), Mo'Nique se inspirou no irmão que a abusava na infância para dar vida a um monstro que se divide entre explorar a filha com trabalhos domésticos, abusar dela sexualmente e acusá-la de ter "roubado" seu marido drogado. Vive do auxílio desemprego e a pensão que deveria ser usada para cuidar da sua primeira neta. É impossível não sentir ódio dela no momento em que a conhecemos. A grande favorita ao Oscar de atriz coadjuvante (ao final falarei mais sobre esse favoritismo).

Paula Patton



A professora Blue Rain, da escola alternativa, com muita paciência vai ensinando Precious e suas colegas muito mais do que colocar as letras em ordem para ler e escrever. Não é seu papel levar suas alunas a enxergar que estão desperdiçando suas vidas e colocá-las na linha. E é nesse ponto que o filme deixa de ser clichê, foge da cena comum. O papel da Sra. Rain é o de ensinar a Precious a exteriorar seus sentimentos, o que vai ajudá-la a exorcizar alguns de seus demônios. Tudo o que ela antes guardava para si, passa para as páginas do seu diário. Atuação brilhante da Paula.

Mariah Carey



Interpretando a assistente social Weiss, Mariah Carey tem um início tímido, mas depois nos convence de que merece e muito ser exaltada pela sua atuação, ao contrário de outras ocasiões. Weiss passa a conhecer mais a Precious durante suas conversas e numa das melhores cenas do filme (detalhes ao final) deixa-se comover por toda a história da jovem.

"Preciosa" representa, de certa forma, qualquer um, seja branco, amarelo, gordo ou magro, que já tenha sido discriminado ou subestimado. O drama pode ser exagerado em alguns momentos, mas é impossível ficar imune aos sonhos, sofrimento e redenção que passam pela tela. Uma produção independente que emociona de verdade.
Se a noite do Oscar revelar algumas "zebras", que todas elas sejam a favor de "Preciosa", principalmente para filme e roteiro.
Depois do trailer, legendado dessa vez =D, trarei mais alguns detalhes sobre o filme. Logo, são spoilers. Quem ainda pretende ver o filme, não leia!!!




ATENÇÃO!!!!
SPOILERS!!!!


O grande destaque do filme sem dúvida é a atuação da coadjuvante Mo'Nique. Semana passada, assistir "Amor Sem Escalas". Vera Farmiga e Anna Kendrick foram indicadas para atriz coadjuvante, assim como Penélope Cruz por "Nine", e Maggie Gyllenhaal por "Coração Louco". Ainda pretendo assistir "Nine", mas "Coração Louco" não perderei meu tempo, a não ser que muitas pessoas me recomendem. Sexta-feira, ao sair do cinema, falei pra mim mesmo "Mo'Nique vence fácil o Oscar de atriz coadjuvante". Não pensei isso influenciado pelos diversos prêmios que ela já ganhou, como o Globo de Ouro e o Bafta. Mas sim pela sua atuação espetacular, perfeita eu diria. Sem desmerecer as outras indicadas, não vejo como Mo'Nique perder. E por ter visto "Amor Sem Escalas", a única que mereceu ser indicada foi a Anna, e mesmo assim, perto da Mo'Nique, não tem menor chance. Mo'Nique é odiada do começo ao fim. Uma mãe folgada, escrota, sem moral nenhuma, que maltrata sem dó sua cria. E tudo pelo ódio que tem do seu marido ter preferido sua filha do que ela.
Precious já começa o filme com uma filha, apelidada de "Mongo", por ser portadora de Síndrome de Down. A 1ª aparição da filha acontece no dia em que uma assistente social faz uma visita, daquelas periódicas para ver se a criança está sendo bem cuidada, pra acompanhar a vida dela pra saber se merece receber o auxílio. E aí ficamos sabendo que a filha está sob os cuidados da avó. E numa cena marcante, Mo'Nique coloca uma peruca, passa um batom vermelho, e fica com a criança, que ela tanto odeia, no seu colo enquanto a assistente faz algumas perguntas. Assim que a mulher vai embora, tira a peruca, volta a fumar e afasta a menina o mais rápido possível.
A cena mais forte do filme foi a briga entre a Precious e a mãe, após ela voltar do hospital quando deu à luz o 2º filho. Precious tinha ficado um bom tempo no hospital sem dar notícia. Quando chega em casa sua mãe logo pergunta onde esteve. Ela mostra o bebê e Mo'Nique pede para segura-lo, enquanto ordena que Precious traga algo para beber. E do nada, Mo'Nique joga a criança no sofá e começa a xingar a filha "Sua puta" e joga um copo em sua direção. E aí começa uma briga violenta que culmina com Precious pegando o pequeno Abdul e indo embora da casa da mãe. Enquanto descia as escadas, Precious se desequilibra e caiu com o bebê nas mãos. E pra encerrar, do alto da escada, Mo'Nique aparece com a televisão, já quebrada durante a briga, e arremessa na direção da Precious e do bebê. Por segundos, a tv não os atinge. Uma cena forte, muito forte, tanto que uma menina que estava na minha fileira no cinema começou a ter um ataque de pânica durante.
A cena mais emocionante é entre Precious e a professora Blue Rain. Precious, que é toda forte por dentro, não deixa seus sentimentos transparecerem para os outros, é rendida pela notícia de que tem AIDS, graças ao seu pai. Na escola, enquanto todas as alunas estavam escrevendo em seus diários, Precious tinha escrito apenas 2 palavras "Why me?". A professora Rain pede então que ela a acompanhe, mas a jovem se recusa e revela que é soropositivo. E num momento de raiva, ela vai contando todas as suas frustrações e chora. Rain insiste que ela escreve, que faça isso pelas pessoas que a amam. E Precious rebate que ningúem a ama, que o amor só fez ela sofrer. Emocionada, Rain diz que o bebê dela a ama, assim como ela mesma.
E a melhor cena do filme (a cena final inclusive) ocorre numa tentativa da Mo'Nique de fazer sua filha voltar pra casa, na assistência social, na presença da Weiss, que a cada pergunta vai deixando Mo'Nique cada vez mais desesperada, falando toda hora que Weiss fica ali somente julgando e anotando coisas no papel. Ali que descobrimos que Precious foi abusada pela 1ª vez quando tinha somente 3 anos de idade. E sua mãe nada fez para impedir esse ato. E diante de todas as revelações de Mo'Nique, vemos Weiss, que está ali para ser imparcial, esconder uma lágrima. Ali Precious recupera sua 1ª filha e parte de vez pro mundo, para ter um final mais feliz.
Gabourey certamente não vai ganhar a estatueta. Seu prêmio já foi ter sido indicada merecidamente. E torço para que ela siga essa carreira e continue brilhando como nesse papel.
Mo'Nique certamente leva o Oscar. Impecável em todas as cenas. Uma atuação sólida, firme e muito real.
"Preciosa - Uma História de Esperança" não é favorito na categoria melhor filme. Mas, se a emoção dos jurados falar mais alto que a razão, pode surpreender.

6 comentários:

  1. Eu vi o filme ontem e fiquei assobrado com o desempenho de Mo`Nique, fiquei me perguntando onde ele encontrou tamanha força pra construir aquela personagem. Quanto à história, achei muito bom levar às telas o lado da vida destas pessoas esquecidas e assim mostrar que cinema nem sempre é feito só de brilho.

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  2. A Mariah Carey está impecável! Não à toa já está escalada para o próximo filme do Tyler Perry, também sobre questões sociais e raciais. Desagradáveis são algumas críticas dizendo que o filme é um dramalhão. Deveria ser o quê, então?! Certamente, o crítico está alheio à realidade de muitas favelas brasileiras, por exemplo.

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  3. Assisti ao filme e fiquei perplexa com a história triste de preciosa,a atitude de sua mãe diante dos abusos que a menina sofria com o pai e a frieza que ela transmitia.
    Esse filme se baseia na nossa realidade,onde muitas crianças sofrem abusos sexuais de seus própios familiares.
    É um filme forte e comovente e eu recomendo para que as pessoas reflitam sobre a história.

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  4. Assisti ao filme a um tempo já... mas assistir ao trailler me causa o mesmo arrepio que eu senti a primeira vez que assisti ao filme. É uma história incrivel de sobrevivência.

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  5. Vi o filme,mas não todo, e foi o bastante para entender a vida de Preciosa. O filme foi tão bom, tão real, abrangeu tantos temas sociais, que o meu professor de Ed.Física passou um trabalho sobre "influências dos pais e professores na formação do caráter do indivíduo".

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  6. Esse filme é muito escrôto, tem quem goste de miséria humana, então bom apetite com a iguaria.

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